Esse assunto "sustentabilidade/responsabilidade social" está me enojando.
Cada vez mais.
Ontem, estive pesquisando na web para localizar alguns materiais para ajudar uma de minhas orientandas (da graduação).
Cliques pra lá, cliques pra cá, localizei um lista de publicações no site da WWF Brasil (neste link).
Baixei algumas das publicações, para ler, e verificar se poderiam servir aos propósitos da monografia da minha aluna.
Lastimavelmente, o que li foi aterrorizador.
Se, por uma lado, indica que a ignorância sobre essa coisa de "sustentabilidade" não é um mal crônico apenas brasileiro, por outro percebe-se que o assunto é tão raso quanto uma poça d´água no Saara, inclusive em âmbito mundial.
Uma das publicações disponíveis (aqui) retrata uma pesquisa feita pela filial inglesa do WWF.
O capítulo 2 desta publicação é um verdadeiro acinte à inteligência do leitor.
No início do capítulo, ao tratar de alguns "mitos" (e tentar demonstrar, na sequência, por que são considerados mitos, ou seja, por quais razões são falsos), a publicação diz algo como "conforme foi demonstrado no capítulo 2, os consumidores valorizam muito a sustentabilidade". Porém, o capítulo 2 mal começara, e não há, ao longo deste capítulo, nenhum indicador que corrobore tal assertiva !
A publicação afirma, na introdução, que se propôs a fazer uma extensa pesquisa bibliográfica para, posteriormente, fazer uma pesquisa empírica. Contudo, a pesquisa bibliográfica não existe, e a empírica não tem sua metodologia explicada.
O que significa dizer: pode-se escrever qualquer bobagem, e concluir que a "pesquisa indicou".
Não indicou nada !!!!
Se não é apresentada a metodologia da tal pesquisa, como é que eu vou saber se a pesquisa indicou ou se o cara que escreveu o texto é que acreditava naquilo, e acabou escrevendo qualquer coisa, atribuindo à pesquisa suas crenças ou visões pessoais ?
Uma outra publicação também disponibilizada no site do WWF (aqui) trata de "Marketing Relacionado a Causas", um conceito carinhosamente apelidado de "MRC".
Nem vou entrar no mérito do conceito em si.
Chamo a atenção para os "casos de sucesso" apresentados na referida publicação.
O relatório é produzido por um tal IDIS (www.idis.org.br), uma OSCIP localizada em Pinheiros, São Paulo.
Pois não é que o tal instituto que divulgou o relatório adotou alguns "casos de sucesso" para ilustrar a belezura que são as práticas do tal "MRC" ?!
Quando a gente lê aquilo, já pensa "puxa, que legal". Ao ler os casos apresentados, tem-se a impressão de que tudo é uma maravilha - o texto é sempre elogioso, enaltece as empresas retratadas. Todas as empresas, pelo que se lê, são formadas por pessoas caridosas, magnânimas, extremamente preocupadas com sustentabilidade, responsabilidade social, blábláblábláblá. Ninguém ali se preocupa em bater metas de vendas - o que, por definição, contribui para a "sociedade consumista" criticada na primeira publicação que citei, do WWF inglês.
Depois, descobre-se, no site do próprio IDIS, que os "casos de sucesso", na verdade, são CLIENTES do tal instituto - ou seja, PAGAM ao instituto por serviços prestados.
Contudo, o arquivo não indica isso - e quem lê o arquivo fica com a impressão de que o tal instituto está prestando um "serviço" à sociedade quando, na verdade, ele está apenas se auto-promovendo.
JABÁ PURO.
REPETINDO: o tal instituto COBRA pela consultoria que oferece (aqui) aos seus clientes; depois, publica "casos de sucesso" que apenas promovem estes clientes - mas o faz de maneira que parece que é um serviço de interesse público, o que deveria nortear, por definição legal, uma OSCIP.
Patético.
Vergonhoso.
22 de agosto de 2008
O jabá da sustentabilidade
postado por Unknown
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