24 de agosto de 2008

O comportamento diante da oportunidade

Mais um exemplo de como o consumidor no geral - e o brasileiro em particular - não dá a mínima para esse modismo burro de "sustentabilidade":

Às vezes a gente se enche de ânimo e decide ser um cidadão assim ... digamos, consciente. Há pelo menos três dias, tenho observado em frente ao prédio onde moro uma pequena cachoeira de água descendo entre o meio-fio (aqui em São Paulo chamam de "guia") e o asfalto da rua. Saio e entro no prédio e lá está o filetão de água, aparentemente limpa, descendo morro abaixo.
Não é a primeira vez que isso acontece e o meu impulso é sempre o mesmo: vou ligar para a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). O que acabo fazendo? Nada.
Desta vez, impulsionada por uma neurose crescente em relação à escassez de água, venci a inércia e liguei para o 0800 da empresa. Confesso que estava me achando a rainha da cocada e pensei: com apenas uma ligação vou ajudar a Sabesp a resolver essa porcaria de vazamento. Não foi assim tão fácil.

Depois de discar esse e aquele número e finalmente chegar numa atendente, escuto mais ou menos o seguinte: "A senhora precisa nos informar o local exato do vazamento, caso contrário, não podemos fazer nada". Não entendi e argumentei: "Você está dizendo que EU devo sair pela rua seguindo o filete de água para descobrir onde diabos está o vazamento?"
Ela respondeu: "Sim. A Sabesp agradece a sua ajuda, mas só podemos mandar um técnico até aí se a senhora nos informar o lugar exato do vazamento".
Fiquei brava e perdi um pouco a linha: "Eu não sei de onde está vindo o vazamento, mas achei que bastaria informá-los de que há uma cachoeira passando em frente ao meu prédio há três dias e blá blá blá".

Bem, entendi que não bastava e desliguei o telefone.
Agora há pouco, vi que a água continuava a correr e comecei a elocubrar: "De repente você tem de ir mesmo atrás da origem do vazamento. Essa cidade é um mundo e vai ver os caras recebem trotes todos os dias de gente reclamando de vazamento. Deve existir uma razão plausível pra eles agirem assim. Quer ajudar? Ajuda direito. Mexa o seu popozão Ana Luiza!".

Decidi então seguir a água e, bingo, achei facinho a origem do vazamento sem andar nem mesmo um quarteirão. Imaginei então o que a atendente da Sabesp diria: "Viu moça, precisava dar piti?"

Por outro lado, também pensei: "Ora bolas, se o técnico tivesse vindo até o meu prédio teria tido a mesma facilidade. E se eu fosse uma senhora de 80 anos? E se o vazamento estivesse localizado cinco quarteirões acima?".

Bem, parei de divagar, liguei para a Sabesp de novo e informei o local certinho do bendito vazamento. A moça pediu que eu anotasse o protocolo do atendimento e disse que, no prazo máximo de 24 horas, tomariam as providências.

Este texto foi publicado no blog de "sustentabilidade" da Exame (aqui) em 28/07/2008.
E autora acabou ligando para a Sabesp.
Ok.

Mas, se os consumidores estão TÃO preocupados com a sustentabilidade como tantos meios de comunicação (como a própria Exame) querem nos fazer acreditar, por que ninguém fez a ligação para a Sabesp antes da repórter da Exame ?????

Convenhamos: não sei aonde a repórter mora, mas ela indica ser num prédio - portanto, deveria haver pelo menos duas dúzias de vizinhos que poderiam ter feito a mesma coisa.
Não fizeram.

Por quê ?
Afinal, não faltam afirmativas categóricas de que o consumidor está valorizando a sustentabilidade, não está ?

Cadê a comprovação disso na prática ???????

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