31 de março de 2008

Mais modismo: marketing viral

Depois de algum tempo sem escrever sobre minha campanha anti-modismo imbecilizante no marketing, leituras recentes me levam a tratar de mais um termo imbecil, para dizer o mínimo.
Na semana passada, ao ler o caderno de Informática da Folha, me deparei com uma matéria de capa, tratando do "Marketing Viral".
O texto da Folha de São Paulo (na íntegra para assinantes AQUI) começa assim:
Você está prestes a ser infectado por um vírus que faz com que você passe adiante mensagens e vídeos, simplesmente porque gostou do conteúdo deles. Mas, por trás da iniciativa, estão agências de publicidade, que investem em uma estratégia chamada marketing viral. Divulgadas em blogs, fóruns e redes sociais, como o Orkut, as campanhas têm como objetivo espalhar um conteúdo boca a boca -nesse caso, link a link.

A matéria é extensa, então não vou transcrever na íntegra. Porém, destaco algumas passagens relevantes para a discussão ora apresentada:

Apesar de amplamente utilizadas, somente 15% das campanhas de marketing viral atingiram seus objetivos, segundo estudo da Jupiter Research publicado em outubro último. As empresas ainda estão aprendendo a utilizar esse tipo de mídia, avalia Marcos Telles, coordenador geral de cursos da ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil). Ari Meneghini, diretor-executivo do IAB (Interactive Advertising Bureau Brasil) acredita que é preciso melhorar. "Tem muito publicitário achando que qualquer videozinho no YouTube vai ser viral."
Há duas semanas, um funcionário da agência Riot enviou uma sugestão de pauta para o blog Futepoca (www.futepoca.com.br) sobre a recuperação do jogador Ronaldo. Havia indicações de como o post deveria ser escrito e insinuações sobre uma possível parceria se ele fosse publicado. A equipe do Futepoca condenou a prática. "Se a blogosfera quiser ser tratada como uma mídia responsável, deve se preocupar e discutir sua relação com a publicidade", escreveu Glauco Faria no blog.

MAIS UMA VEZ, como é tão usual, fala-se sobre um tipo de ação de promoção e comunicação como se isso fosse "equivalente" ou "sinônimo" de marketing.

Será que precisa desenhar ?????

Em posts anteriores, já tratei dessa questão de o consumidor confiar mais numa "dica" de um amigo do que numa propaganda. Quanto a isso, não há nenhuma dúvida ! O termo, amplamente estudado, é "propaganda boca-a-boca" (ou, no inglês, "word of mouth"). Muita gente séria já escreveu (e ainda escreve) sobre isso, então é fácil pesquisar.
Agora...... daí a chamar algo tão simples (conceitualmente, pelo menos) de "marketing viral" ?!
Precisa dessa frescura ?????

Um desinformado que seja bombardeado por bobagens desse tipo (e, como já cansei de dizer, na internet em especial vemos MUITA bobagem escrita) pode concluir que "marketing viral" é um "tipo" de marketing, assim como existem os "tipos" marketing político, marketing pessoal, marketing esportivo, e tantas outras nomenclaturas estúpidas e vazias.

Andei "passeando" por alguns blogs que se dedicam ao tal "marketing viral", e achei inclusive a terminologia "marketing de guerrilha". Alguns links que eu consultei: aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

É divertido ver gente escrevendo sobre um assunto que representa, basicamente, a anti-matéria.
Acabei lembrando de uma tese que li, há alguns anos, intitulada "O niilismo de Schopenhauer".
Obviamente não estou comparando a tese às besteiras que li nos links supracitados.
A única relação é o "niilismo".
Daria, inclusive, para inaugurar outro blog: "O niilismo do marketing viral".
Decerto teria audiência, além de originar uma série de livros idiotas e igualmente niilistas, mas que venderiam muito.......
Oops, acho que vou escrever um monte de bobagens, mandar para uma editora e ficar rico !
Dane-se o bom senso !!!!!!!!!!!!

Afinal, é fácil, né ?!

E, para arrematar o post, um texto que mostra que não é preciso nenhuma terminologia cretina para tratar do marketing e de todas as ferramentas que ele nos oferece para lucrar:
Quando o assunto são redes sociais da internet, como os sites de relacionamentos, logicamente estamos nos referindo a atividades que nascem e morrem na própria web, correto? Não necessariamente, como fica claro ao se observar uma tendência que cresce entre empresas relacionadas a práticas esportivas. Em vez de privilegiar a reunião de consumidores apenas em comunidades virtuais, como é comum, as companhias do setor apostam em estratégias que começam na plataforma digital e se estendem em eventos do "mundo real", como festas e atividades esportivas. O objetivo é estreitar relacionamento com clientes, servindo-se das comunidades como ferramenta para ampliar e fidelizar consumidores.

É exatamente o que faz agora a Adidas. A empresa lança no momento uma estratégia que contempla a criação de uma grande comunidade virtual que extrapola os limites da web. Com o nome de Adidas Code, a ação tem como foco congregar consumidores adeptos da prática da corrida. A campanha conta com site que apresenta conteúdo específico relacionado ao chamado running - como é chamado o mercado de corrida-, como dicas de treinamento, alimentação balanceada e orientação de especialistas em condicionamento físico.

Além do conteúdo informativo, há uma série de benefícios para estimular a participação dos membros dentro e fora da web. Descontos para a inscrição em competições exclusivas patrocinadas pela Adidas e compra de itens da linha running, como tênis e agasalhos, estão entre eles. "A idéia é, quanto maior for a interação por parte do membro, maior o valor de descontos para compras de produtos, entre outras vantagens", explica Mariana Fleury, diretora de atendimento da B/Ferraz, agência responsável pelo desenvolvimento do Adidas Code.

Outro importante elo da cadeia de negócios da área esportiva, as academias de ginástica também enxergaram nas comunidades virtuais uma aliada para prestar serviços e estreitar relacionamento. A Companhia Athletica, rede composta por 13 unidades em diferentes cidades e um total de 30 mil alunos, inspirou-se na web 2.0, de cunho colaborativo, para criar o GenteCia. Trata-se de uma rede social exclusiva para alunos e colaboradores da empresa e que contou com investimento de R$ 90 mil. Ela permite que os clientes tenham acesso a dicas de condicionamento físico e alimentação, por exemplo. Tem até espaço para classificados. "Os participantes podem divulgar a venda de serviços profissionais, caso de professores e médicos, ou mesmo produtos, como carros", diz Rafael Kiso, diretor de tecnologia da Focus Networks, agência de negócios digitais responsável pelo desenvolvimento da GenteCia. "O meio digital se tornou uma eficiente plataforma de relacionamento com o cliente", afirma Marcos Nisti, diretor de marketing da Cia Athletica. As atividades fora do meio digital também estão no foco das estratégias." As ações transcendem o digital e envolvem atividades físicas fora da web".

O texto na íntegra está aqui.
E foi escrito sem precisar recorrer a nenhum termo cretino...

2 comentários:

Rafael Ziggy disse...

Carlos!

É compreensível sua revolta com o uso indiscriminado do termo "marketing de alguma coisa". Realmente é um pé no saco.

Pode ser que o TERMO "marketing viral" seja só mais um "modismo imbecilizante no marketing". Isso não vem ao caso. Não podemos descartar todo o CONCEITO que há por trás dessa simples nomenclatura.

Seja lá qual for o nome da "coisa", o "________" é algo novo. Em linhas gerais, marketing viral foi o nome criado para designar as técnicas utilizadas nas redes sociais para estimular o boca-a-boca online em larga escala. Agora, entender todo o processo que há por trás disso vai muito além de uma matéria na Folha e ler alguns "blogs imbecis".

É por isso que eu, autor de um desses blogs que só falam besteira, estudo diariamente o assunto em busca de respostas. Tenho encontrado várias. Talvez você possa me ajudar nessa tarefa. Afinal dentre tantas suposições, acusações e críticas irônicas, você parece seguro de que marketing viral é o mesmo que boca-a-boca.

Pena que você não deu argumentos suficientes para sustentar essa afirmação. Se é tão simples assim, nos explique melhor, com mais calma.

Aguardo ansioso seu esclarecimento. Quem sabe aí esteja mais uma resposta.

Abraço!

Unknown disse...

Rafael,
Alguns esclarecimentos adicionais estão publicados: http://marketing-room.blogspot.com/2008/04/boca-boca-tradio-e-no-modismo.html

Eu jamais descartei o conceito por trás do nome - pelo contrário !
A propaganda boca-a-boca é da maior relevância, qualquer que seja o meio adotado para propagá-la (pessoalmente, por blogs, sites, redes sociais etc).
O problema é inventar um termo "novo", vazio, para se referir a alguma coisa que já existe (e é amplamente usada) há décadas.....

Abs,
Carlos