Inicio o post com uma contribuição do amigo Leandro Vieira. Eu comento depois.
(Des)Atendimento ao Cliente
Por Leandro Vieira
Domingo à tarde, nada melhor que passear com a família no shopping. Lá estava eu, olhando as vitrines, completamente de bobeira e sem compromisso. Entro na livraria – meu destino favorito – e paro, primeiramente, na seção de revistas. Em menos de dez segundos, uma atendente me aborda com um grande sorriso nos dentes: “Boa tarde, senhor! Está procurando alguma coisa específica?”. Educadamente, respondi com o tradicional “estou apenas olhando, obrigado”. A atendente se coloca à disposição e me entrega uma fichinha com o seu nome e um código, algo de extremo mau gosto (a moda nessa livraria é entregar essas fichas para que as vendas sejam computadas ao atendente, independente dele prestar um atendimento ao cliente ou não).
Seleciono três revistas, e me dirijo à seção de livros de negócios. Ao me ver, a mesma atendente me aborda novamente: “chegaram muitas novidades essa semana! Está procurando algum título específico?”. Começo a pensar que ela é dotada de algum tipo de radar, ou sensor de movimento. Dispenso outra vez a sua ajuda com a mesma cordialidade, e inicio a leitura da contra-capa de um livro de marketing. “Quer uma cestinha pra colocar as revistas?”, quase grita no meu pé do ouvido, sempre sorrindo. “Isso não pode estar acontecendo”, penso eu. Mais uma vez, agradeço a atendente, e me dirijo ao fundo da livraria, com a intenção de me esconder e poder ler em paz a sinopse do livro. “Agora eu me livro dela”, falo com os meus botões.
Encontro uma confortável cadeira, sento-me e cruzo as pernas. Acho fantástico esse ambiente que as livrarias modernas inventaram para nos deixar bastante à vontade. O livro de marketing não era lá essas coisas. Começo a folhear as páginas de um almanaque dos anos 80 que alguém havia deixado na mesa à minha frente. Que interessante! Tinha o Bozo, o Ploc Monster, a Turma do Balão Mágico... “O SENHOR JÁ VIU O ALMANAQUE DOS ANOS 70?”, me desperta do transe nostálgico a maldita sorridente. “Não, obrigado!”, respondo já sem paciência.
Pior do que a falta de atenção ao cliente, só o excesso de atenção ao cliente. As empresas acreditam que impondo metas ou cotas de vendas a seus atendentes irão vender mais. Ledo engano. Fazendo isso, só conseguem transformá-los em chatos de galochas. É preciso deixar um espaço para os clientes respirarem. O processo de compra não é algo linear que começa com “Olá! Posso ajudá-lo?” e termina com “Muito obrigado e volte sempre!”. Envolve variáveis tão desconexas quanto lembrar da infância (eu estava quase comprando o almanaque dos anos 80!), ou imaginar o que a turma da faculdade vai achar do “meu novo computador”. Empresas, aprendam de uma vez: deixem seus clientes à vontade!
Fim da história: despistei a atendente sorridente, deixei as revistas e o almanaque dos anos 80 em uma prateleira e saí da loja de mãos abanando.
* Esse episódio é verídico e ocorreu em uma loja de uma grande rede nacional de livrarias, que recentemente foi comprada por outra rede maior ainda.
Leandro Vieira é Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Administrador de Empresas pela UFPB e bacharel em Direito pelo UNIPÊ. Tem MBA em Marketing, pelo Instituto Português de Administração e Marketing (IPAM) e Certificado em Empreendedorismo pela Harvard Business School. Foi professor da Escola de Administração da UFRGS. Criador e Editor do Portal Administradores.
Ok, sou obrigado a concordar com o Leandro...... Mas PARCIALMENTE.
"Pior do que a falta de atenção ao cliente, só o excesso de atenção ao cliente" ?
Dependendo das circunstâncias, sim.
No caso contado pelo Leandro, é claro que a insistência da vendedora foi determinante para a "fuga" da loja - eu faria o mesmo; aliás, JÁ FIZ.....
Mas será que a situação descrita é pior do que quando um cliente tentar entrar em contato com uma empresa (seja para esclarecer uma dúvida, seja para reclamar de um produto/serviço problemático) e é ignorado ?
Eu passei por isso, como consumidor, com a Motorola - para ficar num único exemplo. Poderia citar dezenas de outros.....Dudalina, talvez ?
São diversas opções.
De qualquer forma, a irritação que um vendedor chato propicia passa mais rapidamente do que a raiva e/ou a frustração por ser ignorado, desrespeitado, chamado de otário (nas entrelinhas ou nas linhas).....
Porém, o fato concreto - e, neste sentido, concordo integralmente com o Leandro - é que as empresas não conseguem, no geral, colocar pessoas devidamente capacitadas e bem instruídas para lidar com os clientes.
Um erro crasso, sem dúvida.
Conquanto freqüente.
16 de abril de 2008
Vendedor chato
postado por Unknown
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3 comentários:
O Leandro tem razão quando usa a expressão "deixem seus clientes à vontade", inclusive ótimos exemplos de sucesso que não ficam em cima do cliente são as lojas de departamento, como C&A e Renner, você pega o que lhe interessa, se tiver alguma dúvida chama um atendente, paga e vai embora feliz com sua compra.
As demais lojas deveriam adotar o mesmo método.
Karina Falcirolli
Concordo plenamente, Karina !
Para mim, como consumidor, nada é mais irritante do que um vendedor "colado", tentando empurrar coisas que não quero.
Por outro lado, em lojas como C&A ou Renner, algumas vezes o problema é o cliente ficar "abandonado".... Ele acha um produto de que gosta, mas precisa perguntar se há outras cores e/ou tamanhos disponíveis - mas tem dificuldade em achar um vendedor para prestar-lhe um bom atendimento....
Pessoalmente, gosto da Saraiva, da Siciliano e congêneres, pois o cliente tem liberdade de fuçar à vontade, mas é prontamente atendido por funcionários que ficam nas suas "mesas" (ou balcões), muito solícitos.....
Acho que ela queria dar pra você cara.
Perdeu a chance.
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