24 de janeiro de 2008

POLITICAMENTE CORRETO

Recomendo a leitura de um relatório produzido pela Accenture (aqui, para download, em inglês) sobre o "varejo verde", termo que designa empresas do setor varejista que adotam práticas "ambientalmente corretas".

Há, neste documento, algumas afirmações que merecem certa reflexão......Uma boa dose de SENSO CRÍTICO.

Por exemplo: segundo uma pesquisa citada no paper, 90% da população norte-americana afirma que é importante para as empresas preocuparem-se com seu impacto na sociedade e no meio-ambiente.
Quando li este trecho (na página 4 do documento da Accenture), não pude deixar de pensar nas empresas petrolíferas norte-americanas...... Convenhamos que nenhuma delas pode ser tida como "exemplar" na preservação do meio-ambiente.
Elas sofreram algum tipo de retaliação por parte de 90% da população norte-americana ?
Eu não lembro disso......

Ou ainda a Nike, que durante anos adotava, sem pudores, mão-de-obra infantil e escrava na Ásia.....
Por acaso a Nike sofreu algum tipo de boicote por parte dos consumidores norte-americanos ?
Não, nunca.

A HP e a Apple, por exemplo, projetam seus produtos nos Estados Unidos, recorrendo aos mais brilhantes cérebros produzidos pelas (excelentes) Universidades norte-americanas; contudo, suas impressoras, notebooks, iPods e afins são produzidos na Ásia (Taiwan, China etc), por empresas pequenas, que remuneram mal e porcamente uma legião de trabalhadores braçais com baixíssima qualificação profissional.
Nada contra a redução de custos.
Mas tudo contra a hipocrisia de recorrer a trabalho semi-escravocrático e investir milhões de dólares em ações de relações públicas ou publicidade para "parecer" uma empresa socialmente responsável ou green-friendly.

Porque, neste caso, o que existe é pura e simples propaganda enganosa !!!
Demagogia, hipocrisia e mentira.



Isto apenas vem a reforçar minhas conclusões sobre a tal "febre" que envolve os temas responsabilidade social e ambiental.
Ainda é muita espuma, e pouco sabão. Ainda existem afirmações sem nenhum cabimento, completamente descoladas da realidade. Me parece muito mais uma pressão por parte de alguns meios de comunicação do que uma preocupação legítima, real, tangível.
Como exemplo, no Brasil, cito a Editora Abril.
Ela vem publicando anúncios grandes (sempre mais de 1 página) do site Planeta Sustentável em TODAS as revistas que edita (Veja, Exame, Quatro Rodas, Playboy etc). O site retrata um "movimento" proposto pela própria Editora Abril, e, conforme explicado no site, sua missão é criar um ambiente pluralista, no qual diferentes pontos de vista contribuam para o desenvolvimento do pensamento autônomo e criativo, capaz de despertar a consciência e qualificar a ação.
Para ler mais, sugiro começar por aqui.
Depois, aqui, aqui e aqui.

São alguns (poucos) exemplos de que aqueles que afirmam categoricamente que a questão da "sustentabilidade" é tão relevante assim estão exagerando. Muito.

Neste sentido, cabe revisar um documentário produzido pelo Canal 4 da TV britânica (aqui), que oferece alguma perspectiva para este "alarmismo" que os chatos do "ecologicamente correto" vêm difundindo.

Novamente: não estou dizendo que devemos destruir o meio-ambiente.
Longe disso.

Acho, apenas, que exageros são sempre ruins - e estes temas ("responsabilidade social" e "responsabilidade ambiental" e "sustentabilidade") têm sido cercados pelo mais puro exagero.
Muitas vezes, descambando para o sectarismo, proselitismo e outros ismos......

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