17 de setembro de 2007

Tarifas bancárias - um assalto conhecido

A Folha de São Paulo estampou, ontem, no caderno Dinheiro, matéria tratando das tarifas bancárias cobradas dos clientes para virtualmente qualquer coisa, inclusive respirar dentro da agência bancária por mais do que 0,01 segundo (assinantes da Folha ou do UOL podem ler na íntegra, aqui).
Este assunto é sempre complicado..... Mas importante de ser discutido !

A matéria informa, na essência, o seguinte:
O Ministério da Fazenda quer limitar o número de tarifas que os bancos podem cobrar de seus correntistas, aumentar o número de serviços obrigatoriamente gratuitos e padronizar nomes com o objetivo de facilitar a comparação. Novas tarifas só poderão ser cobradas depois de autorização explícita do Banco Central, e quem financiar a compra de bens como eletrodomésticos e quiser quitar o empréstimo antes da data não pagará taxa. [...] Hoje, as instituições cobram 74 tipos diferentes de tarifa das pessoas físicas, segundo o levantamento do governo. [...] A advogada Maria Elisa Novais, do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), avalia que as propostas elaboradas pelo governo ainda são tímidas diante do problema. As reclamações contra bancos estão em segundo lugar no ranking dos Procons. "Os bancos complicam para lucrar. As medidas do governo poderiam ser mais amplas, mas podem caminhar no sentido de aumentar a concorrência." Segundo ela, os maiores problemas na cobrança de tarifas são a falta de informação clara dos bancos aos clientes e o valor muitas vezes elevado dos serviços, especialmente aqueles que excedem os pacotes contratados pelos correntistas.
No ano passado, os cinco maiores bancos privados faturaram R$ 27,5 bilhões em tarifas -crescimento de 19% em relação a 2005. O Itaú, com R$ 9,097 bilhões, foi a instituição que mais arrecadou. O maior crescimento, de 23%, foi registrado pelo Santander, com receita de R$ 2,836 bilhões.


Pois bem.....Os bancos, obviamente, já se pronunciaram contrariamente (por razões óbvias, afinal 20% do lucro líquido dos bancos, atualmente, vêm das malditas tarifas!).
Nota da FEBRABAN afirma que "Como princípio, defendemos a livre iniciativa e a concorrência. Qualquer iniciativa, de limitar preços ou o número de tarifas, inibe a possibilidade de concorrência. Isso nos parece um contra-senso".
Então os bancos defendem a "livre iniciativa", é ?!
E por que nenhum banco, até agora, teve a "livre iniciativa" de cobrar menos tarifas se é público e notório que os clientes assim o desejam ?

Não há aquele banco "feito para você" ?
Desculpe, mas....
para MIM, não ! Eu não quero pagar pelo menos R$ 8,00 para fazer um simples DOC e/ou TED, pelo internet banking (portanto, sem causar nenhum custo com agência, funcionário, água, luz etc), e ainda ser descontada a CPMF da minha conta, sendo que já paguei cerca de R$ 20,00 de "mensalidade"......

A "mensalidade" cobrada serve para cobrir quais serviços, aliás ?!

Manutenção de conta-corrente ?
Mas péraí....... o "produto" principal de qualquer banco é a conta-corrente - a partir dela, o cliente acaba usando outros serviços.... Para "manter" a minha conta corrente, eu preciso do talão de cheques, preciso depositar dinheiro etc.
MAS TUDO ISSO É COBRADO INDIVIDUALMENTE !!!
Ora, então não seria melhor eu fechar a conta-corrente, e manter, por exemplo, apenas alguma conta-investimento ? Não, porque isso não é possível - a "livre iniciativa" defendida pela FEBRABAN não prevê esta possibilidade. O cliente tem que ficar "imobilizado", sem "iniciativa" alguma.

Como se não bastasse, a FEBRABAN viaja na maionese:
em documento intitulado "Tarifas bancárias: uma luz para o debate", a Febraban rebate as críticas sobre o aumento nas receitas dos bancos com a prestação de serviços e também sobre o valor elevado das tarifas.
Para a entidade, com o fim da inflação os bancos passaram a prestar mais serviços a seus clientes. Dessa forma, é natural que as receitas se elevem. Segundo a Febraban, a principal fonte de tarifas não são as contas de pessoas físicas, mas as cobradas em cartões de crédito, que correspondem a 23,5% da receita total dos bancos. Para defender os valores cobrados, os bancos lembram a existência de pacotes com descontos e também que os clientes ganham reduções ao manter aplicações e saldo médio e ao tomar empréstimos.
Dados do IBGE também foram compilados para mostrar que as tarifas correspondem a um percentual pequeno dos orçamentos familiares, especialmente se comparadas a energia e telefonia. Segundo a Febraban, famílias com renda mensal de R$ 4.000 a R$ 6.000 gastavam 1% de sua despesa total com tarifas bancárias. Os dados foram retirados da POF 2002-2003 (Pesquisa de Orçamentos Familiares) do IBGE.
"Quando avaliadas sob uma perspectiva mais cuidadosa, essas diferenças [nas tarifas cobradas entre os bancos] mostram, na realidade, um mercado caracterizado por intensa competição entre as instituições financeiras".

Que intensa competição ??????
O setor bancário, no Brasil, é muito mais um cartel do que outra coisa.... Com o fim da inflação, não aumentou a quantidade de serviços prestados, não - apenas diminuiu a possibilidade dos bancos ganharem valores absurdamente altos nas aplicações de "overnight", e maquiando os ganhos de aplicações e investimentos, sem falar do "spread bancário" (que mereceria outro tópico, exclusivo, mas um bom começo
é este documento, encomendado pela FEBRABAN à FIPECAFI).
Assim, os bancos,
TODOS SIMULTANEAMENTE (cadê a "livre iniciativa", se todos agem, sempre, em conjunto, com decisões IDÊNTICAS ??), resolveram cobrar inclusive o oxigênio consumido pelos clientes em suas mal-ajambradas agências....

Na minha última visita àquele banco "feito para você" (não para mim, registro novamente!), havia 5 guichês de caixas, mas apenas 2 eram ocupados por funcionárias desempenhando sua função. Uma semana antes, estive naquele "banco-completo" (o maior concorrente do "feito para você"), e a situação era pior: fiquei 2 horas e 15 minutos aguardando para pagar uma multa de trânsito, olhando para 5 guichês vazios e apenas 3 ocupados por funcionários atendendo as pessoas.

Cadê a concorrência ? Cadê a livre-iniciativa ?
Não é auspicioso verificar a semelhança INCRÍVEL entre as tarifas cobradas pelos diversos bancos ?
Para começar, este link, da FEBRABAN, dá alguns indícios sobre a cartelização do setor.

Que depois a FEBRABAN surja com esta análise estapafúrdia, comparando gastos com telefonia, água e eletricidade aos gastos com tarifas bancárias, já é demais.......
Por acaso algum consumidor de água, luz ou telefonia aplica seus recursos nestas empresas, gerando receitas para a concessionária ?? Pois então: nos bancos, isto acontece !
Empresas de telefonia, água, luz e afins prestam um serviço e depois cobram - apenas aí é gerada a receita; nos bancos, por outro lado, bastou deixar o dinheiro na conta-corrente, nenhum serviço prestado efetivamente, e lá vem a cobrança (caríssima) de "tarifa de blábláblá...."
Como se não bastasse, são serviços completamente diferentes - portanto, compará-los é tomar o interlocutor/leitor por completo ignorante. Coisa que, registre-se, bancos adoram fazer: por que eles acham que TODOS os clientes bancários são tão burros ????

Se não achassem isto, não fariam propagandas dizendo "feito para você", enquanto na prática agem de maneira exatamente oposta.......

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