25 de junho de 2008

A responsabilidade social: ente abstrato, imaginário, fictício

Parece ser uma "cruzada contra a responsabilidade social", mas na verdade é apenas e tão somente uma enorme ojeriza por modismos imbecis, que só atrasam a discussão de coisas realmente importantes.

Mas recebi uma newsletter da HSM que destacava uma pesquisa sobre o "não-tema": Acompanhe a aplicação, passo-a-passo, de um modelo de avaliação de investimento social em uma grande montadora automobilística e veja quais os principais problemas encontrados, nesta pesquisa realizada na UFMG.

O surpreendente é ver pesquisadores/professores de uma instituição renomada pagando o mico de publicar uma pesquisa que conclui, em linhas gerais, RIGOROSAMENTE NADA.
Fácil perceber a solidez da pesquisa com base em alguns trechos do relatório apresentado (disponível para download na íntegra AQUI), que destaco abaixo (os grifos, em negrito, são meus, bem como alguns comentários em cor diferenciada):

  • Para o projeto X, existe uma percepção distorcida sobre o que representa a renda gerada pelo projeto: a contratação de jovens por clubes esportivos? A verba recebida? Em relação ao projeto Y, os dados não foram fornecidos, mas existem possibilidades de mensuração da renda gerada para a comunidade, por exemplo, pela somatória dos valores de remuneração dos cooperados, ainda que incipientes, pela renda média dos jovens que foram inseridos no mercado em função da qualificação obtida, dentre outros. No segundo fator avaliado, a relação entre os contratos de fornecimento e os projetos sociais, o gestor informou que não existe essa diretriz formalizada, apenas o reconhecimento da ação social das empresas fornecedoras por meio de uma premiação.
  • No quarto fator avaliado, o investimento social per capita, o valor do projeto X foi informado contabilizando apenas investimentos parciais da Empresa Investidora, não o total. O projeto Y não disponibilizou a informação. Pela ausência de dados, o fator que seria avaliado na seqüência (comparação per capita com projetos de referência) foi descartado. O quinto fator avaliado foi a relação entre o investimento nas atividades-fim e nas atividades-meio do projeto. Parece não haver muita clareza na distinção entre elas.
  • O primeiro fator avaliado nesta categoria foi o volume de impostos abatidos. O gerente responsável pela área não soube informar o valor dos impostos, apenas se limitou a mencionar que são os benefícios concedidos pela lei.
  • Merece destaque o fato de que os projetos em questão foram citados por aproximadamente 1% da amostra, o que reflete o desconhecimento efetivo, mesmo entre os formadores de opinião. [OBSERVAÇÃO MINHA: Santo eufemismo, hein ?! Se APENAS 1% da amostra citou os projetos em questão, eles não têm RELEVÂNCIA NENHUMA!!!! UM POR CENTO!!!!!!!!!!!!! Qual o tamanho da amostra ? Se foram 2.000 pessoas, apenas 20 pessoas.....Por outro lado, se foram 500 pessoas, apenas 5 citaram......]
  • Os resultados demonstram o que o próprio mercado já vem apontando: a análise dos projetos sociais não pode estar descontextualizada dos outros atributos, como qualidade e preço. Dificilmente um consumidor aceitará ser maltratado, pagar caro e comprar um produto de baixa qualidade, só em função dos projetos sociais. [OBSERVAÇÃO MINHA: Putz, não dava para fazer nenhuma observação MAIS óbvia do que essa ?! Tipo: "o céu é azul"......?!]
  • O primeiro fator avaliado nesta categoria foi o conhecimento dos projetos sociais da empresa. Apesar de 77% dos funcionários afirmarem conhecer os projetos, apenas 20% citaram o nome do projeto Y e 4% o nome do projeto X, e praticamente metade da amostra (47%) não especificou o nome de nenhum projeto, o que nos permite inferir que o desconhecimento da atuação social da Empresa Investidora ainda é elevado internamente. A maioria dos funcionários (64%) também não sabe que a área responsável pelos projetos sociais é a de comunicação, mencionada por apenas 9% da amostra. Percebe-se que fatores como a sensação de orgulho e o comprometimento dos funcionários com a empresa, apesar de bem avaliados, não apresentam uma correlação significativa com os projetos sociais. [OBSERVAÇÃO MINHA: Mais obviedades........Santa falta do que fazer, Batman!]
  • O primeiro fator avaliado nesta categoria foi a visão de sustentabilidade dos projetos em relação a prazos e recursos financeiros. Apesar de algumas considerações interessantes sobre a dimensão mais qualitativa da sustentabilidade, nenhum dos entrevistados conseguiu responder de forma completa à questão que se referia ao período e aos recursos envolvidos no processo de sustentabilidade. A falta de informação pode representar um risco para a própria continuidade do projeto. [NOUTRAS PALAVRAS: ninguém sabe nada. Mais obviedades, acumulando-se.....]
  • O primeiro fator avaliado nesta categoria foi a economia de recursos naturais promovida pelos projetos sociais e seus impactos financeiros. A gestora do projeto X não soube responder e a gestora do projeto Y, apesar de ter citado que existe o trabalho, não soube mensurar. O gestor da Empresa Investidora não associou a resposta aos projetos sociais, sobretudo em relação ao projeto Y, que utiliza muitos materiais reciclados a partir de refugos da indústria para geração de renda na cooperativa desenvolvida pelo projeto. No segundo fator mensurado, as palestras de educação ambiental, a gestora do projeto X não soube responder e a do projeto Y destacou que esse tipo de trabalho é feito de maneira transversal e não direta. [As pessoas responsáveis por gerenciar os projetos em questão sabem ALGUMA COISA destes projetos ?]

Na minha leitura, esta pesquisa (e as conclusões apresentadas pelos autores) apenas reforça o que venho dizendo há tempos: a tal "responsabilidade social" é um modismo - vazio, inútil e fútil.

Empresas dizem adotá-la, valorizá-la, mas não sabem nem o que significa, nem quais os resultados trazidos.

Oportunistas passam-se por "consultores" e "experts" no assunto, para faturar seus trocadinhos, e, aproveitando-se da ignorância supracitada, implementam "alguma coisa", a que chamam de "responsabilidade social". Porém, não sabem apontar os benefícios reais, não têm bases para sustentar nada, e são igualmente incapazes de apontar métricas que comprovem o resultado. Como se não bastassem, aproveitam-se da mídia favorável para alardear que empresas socialmente responsáveis atraem mais clientes (vide ESTE post, de 22 de Maio) - coisa que não passa de palpite, sem nenhuma base comprobatória.

Enquanto isso, gastam-se dinheiro, tempo e energia batendo cabeça - sem chegar a lugar nenhum.

Para algumas leituras complementares, ficam as sugestões: aqui e aqui. A despeito do niilismo do conteúdo, a forma é divertida....


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