28 de julho de 2009

Analisando tendências

No caderno Mais! da Folha de São Paulo do último domingo (26/07), o tema da capa é TENDÊNCIAS.
Eis alguns trechos da (extensa) matéria:

Mas o que querem esses gigantes corporativos e seus cientistas multidisciplinares calcular de nossos e-mails, nossas compras, nossas buscas na internet?

O sucesso duradouro de "O Ponto da Virada" (ed. Sextante), do jornalista Malcolm Gladwell, nos dá uma das respostas: querem achar "os influenciadores". Nesse livro, apresenta-se uma tipologia dos indivíduos segundo sua função e importância na difusão de uma novidade, de um "meme". Este pode ser um hábito, uma atitude, uma tendência de consumo ou uma opinião.
Segundo o livro, alguns indivíduos seriam especiais, responsáveis por definir o alcance das ideias, e sugere-se que, uma vez conquistadas essas pessoas, as demais seguiriam por um efeito de avalanche.

O ponto crítico, o tal do "tipping point" [título original do livro], seria o momento em que o último grão é colocado para iniciar a avalanche, o último indivíduo necessário conquistar desse pequeno grupo para mudar toda a sociedade.

A ideia de que grandes mudanças dependem de convencer poucas pessoas é muito sedutora e desperta o interesse não só de empresas, publicitários e partidos políticos como também de organizações interessadas em difundir informação ou práticas de saúde e cidadania. Desvendar os influenciadores seria a pedra filosofal da propaganda boca a boca, uma expectativa que, aliada a nossa experiência diária com vídeos de completos desconhecidos atingindo a fama pela internet, cria uma euforia sobre o assunto.

Seis graus
O que Gladwell apresenta, no entanto, é um lado de um debate científico de mais de meio século, que motivou a ida de Duncan Watts ao Yahoo! para, com os recursos do portal, realizar experimentos e análises que esclareçam seu ceticismo com relação à existência dos tais influenciadores. Ele já propôs, sustentado em seus trabalhos acadêmicos, que a teoria é pura retórica.

Duncan, doutor em física, mas antes marinheiro australiano, ficou conhecido no meio acadêmico por surfar a crista da onda de interesse das ciências exatas em problemas sociológicos, propelida pelo poder analítico dos computadores modernos.

Entre o público em geral, seu livro "Six Degrees - Science of a Connected Age" ["Seis Graus -A Ciência de uma Era Conectada"] fez sucesso, e seus experimentos virtuais e sociais, dentre os quais uma reprodução em escala ampliada pela internet dos famosos seis graus de separação de Stanley Milgram, foram notícia e até viraram série televisiva.

Curiosamente, seu interesse na questão dos influenciadores reflete o ambiente que ocupava na Universidade Columbia, como professor do departamento de sociologia que antes abrigou o Escritório de Pesquisa Social, fundado e dirigido por Paul Lazarsfeld, onde nos anos 50 realizavam-se os primeiros estudos quantitativos sobre influência social.

Austríaco e matemático de formação, Lazarsfeld contribuiu decisivamente para a metodologia da sociologia estadunidense. Foi um estudioso da comunicação e coordenou pioneiras pesquisas de campo sobre a relação entre mídia de massa e população.

Formulou o modelo de fluxo da comunicação em duas etapas, segundo o qual ideias e opiniões não fluem diretamente da mídia para o cidadão, mas apenas para um grupo mais educado e interessado, que por sua vez transmite-as para a população geral por meio de contatos pessoais. Lazarsfeld chamou esses grupos (no plural, pois a cada campo de influência correspondem grupos diferentes) "líderes de opinião" e destilou suas qualidades e relações com os demais atores.

Quem lê seus trabalhos vê expressões como "líderes de moda", "líderes de política", "líderes de cinema", e a comparação com a teoria dos influenciadores torna-se imediata.
Porém o que Lazarsfeld fez foi mapear cada rede de influências e destacar um grupo por sua posição nessa rede com relação à dinâmica específica da passagem de influência da mídia para a população.

Deixando-se de lado a atualidade da teoria, permanece a questão: como o indivíduo se relaciona com suas influências e quais canais são relevantes na sua dinâmica? Essa pergunta foi então abordada frontalmente ao final daquela década por Everett Rogers.
A matéria completa está AQUI.
Vale a pena ler.
Aliás, logo depois, no mesmo caderno, uma outra matéria, correlata, é igualmente imprescindível; está AQUI, e trata de livros (e/ou teorias) feitos para vender, em contraposição àqueles que demandam pesquisas sérias.

Trata-se de uma EXCELENTE reportagem que diz respeito à velocidade de difusão de inovações, comportamento do consumidor, segmentação e nichos...... Enfim, temas cruciais ao marketing.

16 de julho de 2009

CRM simplificado

Um homem estava dirigindo há horas e, cansado da estrada, resolveu procurar um hotel...
Avistou um letreiro, parou e entrou.
Na recepção, uma moça o cumprimentou amavelmente.
Em poucos minutos, o hóspede já se encontrava confortavelmente instalado.

No quarto, uma cama, impecavelmente limpa, uma lareira, um fósforo sobre a lareira, para ser riscado. Era demais!

O homem que queria um quarto apenas para passar a noite, achou que estava com sorte. Mudou de roupa para o jantar.

A refeição foi tão deliciosa, como tudo o que tinha experimentado, até então.
Quando retornou para o quarto. Fazia frio e ele estava ansioso pelo fogo da lareira.

Surpresa! Alguém havia se antecipado e, quando entrou, o fogo já ardia na lareira.
A cama estava preparada, os travesseiros arrumados e um chocolate sobre cada um.
Que noite agradável aquela!

Na manhã seguinte, o hóspede acordou com um estranho borbulhar, vindo do banheiro. Saiu da cama para investigar.

Era uma cafeteira, ligada automaticamente por um timer, estava preparando o seu café e, junto um cartão que dizia: "Sua marca predileta de café. Bom apetite!"

Era mesmo!
Como eles podiam saber desse detalhe?
De repente, lembrou-se: no jantar perguntaram qual a sua marca preferida!
Em seguida, ouviu um toque na porta. Ao abrir, encontrou o jornal de todos os dias...

Como eles adivinharam?
Lembrou que a recepcionista havia perguntado qual jornal ele preferia.

O cliente deixou o hotel encantando, feliz pela sorte de ter ficado num lugar tão acolhedor.
Mas, o que esse hotel fizera mesmo de especial?
Apenas ofereceram um fósforo, um chocolate, uma xícara de café e um jornal.


Nunca se falou tanto na relação empresa-cliente como nos dias de hoje.
Milhões são gastos em planos de marketing e, no entanto, o cliente está cada vez mais insatisfeito.
Mudam embalagens, mas se esquecem das pessoas.
O valor das pequenas coisas e pequenos gestos de cordialidade, gentileza, conta, e muito.

11 de julho de 2009

Comércio eletrônico segmentado

A Época Negócios de julho está excelente. É dela que tiro outra matéria para comentar (na íntegra, AQUI), com grifos meus:

Relógio Creative, da marca DKNY, de R$ 1 ,4 mil por R$ 629. Óculos Midnight, de Fause Haten, de R$ 327 por R$ 143,91. Banqueta Massonet Tam Tam Fluo, da Benedixt, de R$ 265 por R$ R$ 127,90. Preços tentatores? Eles eram oferecidos, no final de junho, pelo BrandsClub, um site de comércio eletrônico que funciona como um clube fechado de compras. Para entrar, não basta um cadastro. É necessário ser convidado por algum outro participante ou aguardar numa fila de espera pela autorização. O BrandsClub entrou no ar no início deste ano, resultado de uma primeira rodada de investimentos no valor de R$ 10 milhões. Na liderança do site está Paulo Humberg, um empreendedor veterano da internet. Formado em mar-keting pela ESPM, Humberg criou o Shoptime, programa de TV com ofertas de produtos para casa, o site de leilões Lokau.com e o portal iBest. Fundou ainda a A5 TMT Company, um fundo de investimento para novos projetos nas áreas de tecnologia, mídia, entretenimento e telecom.

A inspiração para o lançamento do conceito de outlet virtual veio da Europa, principalmente do francês Vente-privee, que ficou famoso ao vender 55 mil pares de tênis Puma em um dia. "Alguma loja convencional é capaz de vender esse volume em tão pouco tempo?", diz Humberg. Apesar de o negócio de clubes fechados de compra ser recente no Brasil, o BrandsClub não está sozinho. Tem concorrentes como o Superexclusivo, o Privalia e o Coquelux. Para estimular o impulso de compra dos usuários, os descontos são agressivos e as promoções têm data e hora para começar e acabar. "Com medo de perder a oportunidade ou de o estoque esgotar, o cliente compra assim que entra no site", diz Juliana Messenberg, sócia do Superexclusivo.

Reprodução
No BrandsClub, as vendas são chamadas de eventos e duram, em média, quatro dias. Assim que uma marca decide fazer a promoção no site, os itens vão para um galpão em Alphaville, na Grande São Paulo. Lá, são fotografados por uma equipe do site. Os clientes recebem a relação das vendas por e-mail. No dia 11 de maio passado, às 7h, por exemplo, começou uma venda da marca NK Store. Vinte minutos depois, 13 peças tinham sido comercializadas. Uma hora depois, o número chegava a 80. No final da tarde, dos 16 vestidos oferecidos, 11 estavam esgotados. "Quanto antes você entra, mais opções tem", diz Carolina Leonhardt, 29 anos, uma cliente assídua do BrandsClub.

A vantagem para as lojas é a possibilidade de diminuir estoques. "Para a marca, é bom ter uma solução fechada que dê vazão ao excedente sem comprometer a imagem", diz Roberto Jalonetsky, cofundador e negociador do BrandsClub com os fornecedores. No futuro, o site pretende criar vendas ainda mais fechadas. "Podemos pegar um grupo seleto de compradores do nosso universo e fazer um evento direcionado a ele", diz Humberg. Tecnologia para isso já existe e está sob a responsabilidade do francês Olivier Grinda, cofundador do BrandsClub. Mas falta ainda uma base maior de clientes. A intenção do BrandsClub é chegar a 1,5 milhão de usuários até o final de 2009. Hoje são cerca de 50 mil cadastrados, segundo o site. O objetivo de Paulo Humberg é alcançar um faturamento de R$ 15 milhões no final do ano. "Temos nas mãos um projeto de R$ 1 bilhão em oito anos", afirma.
Neste modelo de negócios, a SEGMENTAÇÃO é crucial.
Através dela, pode-se eleger um nicho bastante específico, sem que a imagem de sofisticação (e preços premium) das marcas envolvidas seja reduzida.

A exclusividade das marcas é mantida (brand equity), as vendas aumentam (assim como as margens), reduz-se o estoque (menos prejuízo financeiro) e todos ficam felizes - exceto quem quer comprar estes produtos e não pode, pois não foi convidado por ninguém que faça parte do nicho em questão......

E o twitter ?

Pois é...... o twitter virou assunto da moda.
Mesmo ocupadíssimo como estive nos últimos meses (razão pela qual o blog não tem sido atualizado como deveria), seria impossível não ter ouvido (e lido) sobre o twitter.

Escrevi sobre ele, superficialmente, em março (aqui), além de ter disponibilizado um vídeo interessante (aqui).
Em linhas gerais, mantenho minha opinião. Agora tenho a minha conta do twitter (aqui), e até o momento, a impressão que tenho é a mesma que revelara em março: Eis aí um serviço que, para mim, é de uma imbecilidade ímpar. Chato, inócuo e bestinha. E, além disso, não tem um modelo de negócios - em suma, não se justifica.

Cheguei a fazer o pacote completo para testar o twitter: cadastro via web, aplicativo (add-on) para o Firefox, software para acessá-lo pelo celular etc.... Ok, isso quer dizer que do meu celular eu posso ler, via twitter, que fulano está jantando com a namorada, ou que está preso no trânsito.....E DAÍ ?

Uma matéria da Época Negócios (que, como eu já disse várias vezes, está humilhando a Exame, em termos de conteúdo) de julho (na íntegra AQUI), porém, revela outras possibilidades - interessantes, aliás:

"Saindo pãozinho agora." É com esta mensagem de 19 caracteres que desde o início do ano o Twitter do supermercado Farinha Pura, do Rio de Janeiro, informa aos clientes qual o melhor horário para buscar pão quente. O supermercado também fornece senhas diárias que dão 5% de desconto nas compras. Com isso, consegue mensurar o alcance do Twitter, que transformou em ferramenta de comunicação. "Três ou quatro seguidores nos visitam por dia", diz Tiago Pitta, gerente de marketing do Farinha Pura.

A construtora e incorporadora Tecnisa vendeu um apartamento de R$ 500 mil, no dia 28 de maio, para um seguidor de sua marca no Twitter. O comprador procurava um imóvel quando viu no Twitter uma promoção da Tecnisa. O usuário que comprasse um imóvel ganhava um cupom de R$ 2 mil da Lojas Americanas. Segundo Roberto Loureiro, gerente de redes sociais da Tecnisa, o primeiro contato do cliente foi feito pelo microblog. Ele foi, então, encaminhado aos corretores para finalizar a venda. Romeo Busarello, diretor de marketing da Tecnisa, diz que a ferramenta tem sido boa para prospectar clientes. "Quem segue a Tecnisa é porque está procurando um imóvel", afirma Busarello, que contabiliza cerca de mil seguidores da Tecnisa. "As principais vantagens são o custo zero e a barreira zero", diz.

A primeira pesquisa sobre os usuários brasileiros do Twitter, feita pela agência Bullet, em abril de 2009, aponta que 79% seguem ou já seguiram perfis de empresas, eventos ou campanhas publicitárias no microblog. Uma boa notícia para as empresas. Segundo Wagner Fontoura, da agência de publicidade para mídias sociais Riot, as empresas brasileiras começam a descobrir a capacidade do Twitter de alcançar o consumidor websurfer, aquele que busca na internet referências para tudo. O sucesso de iniciativas como as da Farinha Pura e da Tecnisa segue na linha adotada por Dell, Submarino e Fast Shop. "Experiências como essas chancelam o Twitter como plataforma de comunicação corporativa", diz Fontoura.
Ok, sob a ótica desta (curta) reportagem, há aspectos interessantes sobre o twitter.
Agora.....CUSTO ZERO ??????????
Na-na-ni-na-não.

Há custos, SIM !!!!!
Ora, para usar o twitter, a pessoa precisa de computador (desktop, notebook, não importa), acesso à internet, nível básico de inglês etc...... Temos aí uma barreira (aliás, MAIS DE UMA) que restringe o potencial de penetração do twitter no Brasil.

A despeito do crescimento do número de internautas no Brasil (segundo pesquisa recente do Ibope, seriam algo como 60 milhões de pessoas), ainda há um IMENSO contingente de pessoas que não conseguem acessar a internet - ou mesmo pessoas que se enquadram como "internautas" na pesquisa do Ibope NetRatings, mas que, NA PRÁTICA, não tem interesse no twitter.

Convenhamos: quantas pessoas você, caro leitor, conhece, que têm computador, têm acesso à internet (em casa, no trabalho, não importa), mas ainda assim não participa destas "redes sociais" (como orjut, facebook, twitter etc) ?


Eu conheço DEZENAS.


PS - A mesma edição da Época Negócios traz outra matéria, útil, sobre o comportamento no ambiente do twitter, em particular para executivos. Está AQUI, é é muito divertida.

10 de julho de 2009

Armadilha

O comercial é sensacional:



Além do bom humor, transmite de forma clara e eficiente a mensagem central do benefício do produto - e, mais do que isso, como usar a percepção geral do cliente, passa a ser CRÍVEL.
Genial.

3 de julho de 2009

Marketing na prática

Essa eu recebi de uma aluna, por e-mail, e publico porque merece:

Em uma convenção de fabricantes de cervejas brasileiras, reunindo os maiores produtores do país, estavam presentes os presidentes da Brahma, Skol, Kaiser, Antartica Schin, etc.... Ao término do simpósio todos se reuniram no restaurante para uma "confraternização".

Muito esperto, ao perceber a aproximação do garçon, o presidente da Schin pediu em alto e bom som:
- Garçon, uma Nova Schin, por favor! Isso sim é que é bebida!

Todos se olharam espantados, enquanto ele contemplava sua cerveja, certo de que saíra bem.
Não querendo deixar por menos, o presidente da Brahma sentenciou:
- Amigo! Traga a verdadeira nº1!

Novamente todos se olharam espantados e ele ficou achando que deu a resposta merecida!
Na mesma moeda, o presidente da Kaiser bate na mesa e grita:
- Me vê a do baixinho! Esse sabe das coisas......

E assim, seguiram os presidentes das cervejarias, cada um pedindo a sua maneira, até que chegou a vez do presidente da Skol:
- Garçon! Uma coca-cola, por favor!

Todos se olharam abismados, achando que ele perdera uma boa oportunidade de responder a altura.

O garçon curioso, aproxima-se e pergunta:
- O senhor tem certeza?

Ele respondeu:
- Tenho! Se ninguém vai beber cerveja, eu também não vou!

Agradeço o e-mail da Daniela.